Enoque Caló
Publicado em 03.09.2012 no site Instituto Jetro
Ele não seria visto como supervisor e nem tão pouco como coordenador de Células. Os líderes do novo modelo de “Pastor de multidões” considerariam Nóe um pregador fracassado. Como pode, falou tanto da arca, porém não conseguiu salvar nenhum dos de fora?
Ele é a antítese de muito de nós que pensam apenas em ter igrejas cheias, prósperas, onde alguns poderão em meio ao poder, status, dinheiro, correr o risco de salvar o mundo inteiro e perder a própria alma e/ou perder a família.
Na semana passada estive presente na “posse” de um pastor quando ouvi a frase: “Nóe não foi um pregador fracassado uma vez que conseguiu salvar sua família”.
Foi a frase mais inquietante que ouvi naquela noite de quinta- feira. Corremos o risco de ser muito mais útil, ter muito mais tempo para os de fora que para nossa família. Investimos tanto tempo no trabalho ou na igreja ou trabalho e igreja pensando que estamos fazendo a “obra de Deus” quando na verdade desprezamos o investimento em nossa casa.
Nóe trabalhou na arca por 120 anos, mas com certeza ele também trabalhou no relacionamento com seus filhos, sogras e esposa. Se ele não tivesse trabalhado no relacionamento acredito que estes não entrariam na Arca, eles já estariam com tanto desgaste no relacionamento que não suportariam as irritações do seu pai . Você pode imaginar o que é ficar toda aquela quarentena em meios aos bichos se tivessem um relacionamento desgastado?
Outro dia fui a uma comunidade que tem o modelo de Multidões. Era a confraternização pelo recebimento dos que foram batizados. A cada apresentação de um novo membro, após a celebração, gritava-se: “Pastor de Multidão”. Fulano de tal: “Pastor de Multidão”. Este era o sentimento reinante naquele lugar, Multidões e Multidões.
Quando me refiro a Multidão, meus pensamentos chegam em Lucas 19, quando Jesus em sua ultima jornada em direção à Jerusalém, passando por Jericó é rodeado de uma grande multidão, onde o interesse principal estava nos milagres e na alimentação. Normalmente multidão quer “pão e milagre”, não que isto não seja importante porém, quando assume o nível de prioridade máxima corremos risco de não conhecer Jesus, o pastor individual.
Tratamento individual, tratamento pessoal
Interessante que na estrada de Jericó, Jesus como se ignorasse a multidão e com certeza esta não era seu foco principal, parou em determinado trecho do caminho para poder responder a alguns fariseus. Tratamento individual, tratamento pessoal.
Pastores de multidões, quanto tempo tem investido em tratamento individual, em tratamento pessoal? Seria possível deixar de ministrar uma reunião para centenas ou milhares de pessoas para investir em uma única pessoa?
Jesus conhecia o interesse da multidão e este é revelado no versículo sete, do capitulo dezenove, do Livro do Médico Lucas.
A multidão que acompanhava Jesus agora são os primeiros a criticar seu modelo de atendimento individual. Multidão quer sempre ser atendida no coletivo, pois fica fácil de esconder, fica fácil de continuar praticando os mesmos atos e ninguém vai reparar, pois somos o todo, somos um grande numero de pessoas.
Lembra do caso da mulher do fluxo de sangue quando Jesus alerta: alguém me tocou, uma pessoa teve um interesse diferente sobre meu ministério e seus discípulos disseram: como assim alguém te tocou? Somos multidões e não será possível identificar quem lhe tocou.
Jesus procura pessoas para tocar individualmente, toques que possam marcar definitivamente sua vida, seu caráter, a transformação instantânea como ocorreu com Zaqueu ou transformação progressiva como aconteceu com a maioria dos discípulos.
Podemos dizer que Nóe baseava sua pregação no seguinte princípio: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel – I Timoteo 5.8”.
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Título do artigo: Não conseguiu ser pastor de multidão
Autor: Enoque Caló
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